* Ada - The National by lablogotheque
"As espécies que não desenvolveram a escrita valem-se da memória instintiva. O salmão sabe o caminho do lugar onde nasceu sem ter que consultar um parente ou um mapa.(...) Já o Homem pode ser definido como o animal que precisa tomar nota." Luís Fernando Veríssimo
30 abril 2008
28 abril 2008
Conversas Imaginárias #7
Mara Mitchell
Mia Couto
- Como? Imenso e azul? Pelo menos azul já sou ;)
- Também. Mas falava das ondas que vão mas voltam. Podíamos ir, mas voltar para... nem sei bem para quê. Acho que só o voltar já era suficiente. Volta...
25 abril 2008
foto de Eduardo Gageiro publicada n' O Século Ilustrado de 26 de Abril de 1974
22 abril 2008
18 abril 2008
*
Abri os olhos... da casa do vizinho chegava a voz da Nina. Sorri e senti o sal da lágrima única nos meu lábios.
17 abril 2008
...de 1969
Primeiro dia de aulas na universidade de Coimbra. Departamento de matemática. Aula de Análise Matemática I. 8H da manhã.
- Onde vai ser a aula?
- Deixa ver o horário... sala 17A
- Ah! Na sala 17 de Abril.
- ?? Porquê 17 de Abril?
- 17 de Abril de 1969 não te diz nada?
- Uhm... não.
- Também não te conto agora. No final da aula. Anda, estamos atrasados.
Ao entrar na sala o entorpecimento tomou conta do seu corpo. Conseguiu sentar-se, mas tinha a sensação de estar a ser transportado para outro mundo, outro tempo... Uma voz, dentro da sua cabeça, repetia as palavras:
(clicar na imagem)
15 abril 2008
Incapacidade Expressiva #2
14 abril 2008
12 abril 2008
"Olá disseste. E a terra começou a tremer."
(Cheira intensamente a maçãs na antiga sala de bilhar. Estão espalhadas por todo o lado: no chão, no pano verde, dentro dos cestos e canastras. Ia dizer: dentro de ti.
Despe-te, pedes, um certo fim de tarde, era Julho, tenho a certeza que era Julho pela tonalidade de luz e sombra que a essa hora se coalhava num dos cantos da sala de bilhar. Não há pudor entre nós. Obedeço. Ficas a olhar para mim.
(...)
- Diz outra vez
- Quero ir contigo
- Não, a palavra, diz só a palavra que não se diz, diz a palavra de que eu gosto
Mas eu não digo.
(...)
-Quero ir contigo, insisto.
Mas tu já estás a divagar. Começas a dançar, fazendo gestos largos, como se agitasses invisíveis véus.
-Dá-me um beijo na boca, dizes.
Eu beijo-te. Sabes a maçã, a Julho, talvez a Deus. Por mais estranho que pareça, apetece-me rezar.
-Agora beija-me aqui – e apontas o teu sexo.
Eu assim faço.
Sem pudor, sem pecado, sem remorso.
Estamos nus na sala de bilhar, é Julho, posso jurar que é Julho, dizemos palavras proibidas que pelo modo como as dizemos são santas e sagradas, os nossos gestos são castos, talvez perigosos, mas castos, ou, pelo menos, inocentes. Estamos nus, é Julho. E o espírito de Deus, se Deus existe, paira de certeza sobre nós.)
in A Terceira Rosa - Manuel Alegre
08 abril 2008
um, dois, três, e...
...notas a atravessarem a pele e a deixarem um rasto de arrepios
...palavras de veludo a acariciarem os ouvidos
06 abril 2008
Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar.
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Terror de te amar num sítio tão frágil
como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
letras... Sophia de Mello Breyner-Andresen
músicas... Poema azul (Sérgio Ricardo)e As praias desertas(António Carlos Jobim)
....interpretadas por Maria Bethânia
03 abril 2008
02 abril 2008
Lendo isto, recordei uma pequena história de Alçada Baptista:
A vírgula que faltava
O José Cutileiro fazia bons versos. Se calhar ainda faz. Ele tem mesmo um livro publicado na Guimarães Editores onde se lê poesia de qualidade. Às vezes lia-nos os poemas. Uma vez, ia-nos ler um soneto, a mim e ao Alexandre O'Neill e começou assim, cheio de solenidade:
«De ti me sirvo amor como de tudo...»
Então o Alexandre disse: - Ó Zé, falta aí uma vírgula: «De ti me sirvo amor, vírgula», e depois, abriu os braços, e num ar conformado terminou: «como de tudo...»
Mas as interrupções de poemas não ficam por aqui. Uma vez ele estava a descer a Avenida da Liberdade com o Alexandre Pinheiro Torres. Naquele tempo a gente quando tinha fome dizia «estou com uma traça!». Pois o Pinheiro Torres estava a dizer-lhe um poema que a certa altura dizia:
«A rota, a traça...»
O Alexandre interrompeu-o:
- Ó Pinheiro Torres, isso de arrotar a própria traça não será fome a mais?!
in A Cor dos dias - António Alçada Baptista