28 abril 2008

Conversas Imaginárias #7

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Mara Mitchell

morto amado nunca mais pára de morrer
Mia Couto


- Podíamos ser como o mar.
- Como? Imenso e azul? Pelo menos azul já sou ;)
- Também. Mas falava das ondas que vão mas voltam. Podíamos ir, mas voltar para... nem sei bem para quê. Acho que só o voltar já era suficiente. Volta...


25 abril 2008

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foto de Eduardo Gageiro publicada n' O Século Ilustrado de 26 de Abril de 1974

(...) em frente estão as vendedoras de flores. As que existiam nessa altura eram os cravos brancos e vermelhos. Pegam nos molhos que aí tinham e começam-nos a oferecer, assim como outras pessoas que nos vêm oferecer de tudo, inclusive um homem com um presunto e uma faca. Neste contexto, como o vermelho é sinónimo de esquerda e tem um certo enquadramento, os fotógrafos começam a valorizar as fotografias dos cravos vermelhos; mas a realidade é que eles eram vermelhos e brancos que eram os que estavam à venda (...)

excerto de uma entrevista a Salgueiro Maia

22 abril 2008

no descanso da chuva...

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[Póvoa de Varzim - 19 de Abril 2008]


... take me home

18 abril 2008


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Um salto para a vida... - Marta Ferreira




Sonhei que me desfazia e me juntava ao vento. Esse companheiro de sempre. Perante quem me desmancho e nenhum fingimento permanece de pé. Ele sempre soube como o fazer: rodeava-me, envolvia-me e aproveitava para me murmurar à alma: como te sentes?. Impossível fingir. Por isso me desfiz quando ele me convidou a acompanhá-lo. E quando te vi, não resisti. Fiz contigo o que ele sempre fez comigo: rodeei-te, toquei-te, envolvi-te, e acabaste por fechar os olhos para me sentir. Suspirei e murmurei à tua alma: amas-me?. Imediata a resposta surgiu, em forma de notas musicais... i put a spell on you...

*


Abri os olhos... da casa do vizinho chegava a voz da Nina. Sorri e senti o sal da lágrima única nos meu lábios.

17 abril 2008

...de 1969


Primeiro dia de aulas na universidade de Coimbra. Departamento de matemática. Aula de Análise Matemática I. 8H da manhã.



- Onde vai ser a aula?
- Deixa ver o horário... sala 17A
- Ah! Na sala 17 de Abril.
- ?? Porquê 17 de Abril?
- 17 de Abril de 1969 não te diz nada?
- Uhm... não.
- Também não te conto agora. No final da aula. Anda, estamos atrasados.



Ao entrar na sala o entorpecimento tomou conta do seu corpo. Conseguiu sentar-se, mas tinha a sensação de estar a ser transportado para outro mundo, outro tempo... Uma voz, dentro da sua cabeça, repetia as palavras:


15 abril 2008

Incapacidade Expressiva #2

Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite.

Miguel Torga





S. Miguel - Açores





Heidelberg - Alemanha







Barragem Vilarinho das Furnas - Gerês

14 abril 2008

Springtime is coming again *


flowers lift theirs heads to the sun



, _ Luis Zilhão

Luis Zilhão



and I wanna bloom with them






* Bloom - Lou Rhodes

12 abril 2008

"Olá disseste. E a terra começou a tremer."



(Cheira intensamente a maçãs na antiga sala de bilhar. Estão espalhadas por todo o lado: no chão, no pano verde, dentro dos cestos e canastras. Ia dizer: dentro de ti.





Porque é também o teu cheiro: não só a madressilva e às ervas das areias, mas a maçã camoesa,
reineta,
bravo de esmolfe.
Aqui brincámos, quando pequenos, aos cavalinhos e às casinhas. Mais tarde a outros jogos. Alguns, por certo, chamar-lhe-iam eróticos. Eu digo castos. Jogos castos, ainda que perigosos.
Despe-te, pedes, um certo fim de tarde, era Julho, tenho a certeza que era Julho pela tonalidade de luz e sombra que a essa hora se coalhava num dos cantos da sala de bilhar. Não há pudor entre nós. Obedeço. Ficas a olhar para mim.

(...)
- Quero ir contigo
- Diz outra vez
- Quero ir contigo
- Não, a palavra, diz só a palavra que não se diz, diz a palavra de que eu gosto
Mas eu não digo.
(...)
-Quero ir contigo, insisto.

Mas tu já estás a divagar. Começas a dançar, fazendo gestos largos, como se agitasses invisíveis véus.

Assim te despes, devagar, dançando sempre. É a primeira vez que te vejo nua, completamente nua, posso mesmo dizer que estás nua por fora e por dentro, não é só o teu corpo que me mostras, é algo mais, alguns diriam alma, eu não sei como dizer, sei que estás dentro e és tu, a tua nudez é uma nudez espiritual.

-Dá-me um beijo na boca, dizes.

Eu beijo-te. Sabes a maçã, a Julho, talvez a Deus. Por mais estranho que pareça, apetece-me rezar.

-Agora beija-me aqui – e apontas o teu sexo.

Eu assim faço.

Sem pudor, sem pecado, sem remorso.

Estamos nus na sala de bilhar, é Julho, posso jurar que é Julho, dizemos palavras proibidas que pelo modo como as dizemos são santas e sagradas, os nossos gestos são castos, talvez perigosos, mas castos, ou, pelo menos, inocentes. Estamos nus, é Julho. E o espírito de Deus, se Deus existe, paira de certeza sobre nós.)


in A Terceira Rosa - Manuel Alegre
(fotos de cima para baixo: Tentação - Amanda Com; [Not about]Love - Graça Loureiro)

08 abril 2008

um, dois, três, e...



... aconteceu magia...


...notas a atravessarem a pele e a deixarem um rasto de arrepios

...palavras de veludo a acariciarem os ouvidos


06 abril 2008




Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar.










Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.

A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.








Terror de te amar num sítio tão frágil

como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.







letras... Sophia de Mello Breyner-Andresen

músicas... Poema azul (Sérgio Ricardo)e As praias desertas(António Carlos Jobim)
....interpretadas por Maria Bethânia




03 abril 2008

I wanted to see this for myself *










* Fall

[next time, de certeza...]


02 abril 2008


Lendo isto, recordei uma pequena história de Alçada Baptista:


A vírgula que faltava

O José Cutileiro fazia bons versos. Se calhar ainda faz. Ele tem mesmo um livro publicado na Guimarães Editores onde se lê poesia de qualidade. Às vezes lia-nos os poemas. Uma vez, ia-nos ler um soneto, a mim e ao Alexandre O'Neill e começou assim, cheio de solenidade:
«De ti me sirvo amor como de tudo...»
Então o Alexandre disse: - Ó Zé, falta aí uma vírgula: «De ti me sirvo amor, vírgula», e depois, abriu os braços, e num ar conformado terminou: «como de tudo...»

Mas as interrupções de poemas não ficam por aqui. Uma vez ele estava a descer a Avenida da Liberdade com o Alexandre Pinheiro Torres. Naquele tempo a gente quando tinha fome dizia «estou com uma traça!». Pois o Pinheiro Torres estava a dizer-lhe um poema que a certa altura dizia:
«A rota, a traça...»
O Alexandre interrompeu-o:
- Ó Pinheiro Torres, isso de arrotar a própria traça não será fome a mais?!

in A Cor dos dias - António Alçada Baptista


(foto: Vírgula - Paulo Moura)