27 outubro 2013



"Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda."

Daniel Faria



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20 outubro 2013

Carta a Alice #6

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Sabes... há uns segundos na manhã, na tarde, na noite, mas principalmente ao amanhecer e ao anoitecer em que o meu peito se comprime. São aqueles pedaços do dia em que a vida me permite sentir-te (novamente). É o meu corpo a reagir à lembrança de te sentir deitada sobre o meu peito, do meu lado esquerdo. Aqueles segundos (ou terão sido minutos...não sei) em que senti o teu peso sobre mim: quatro quilos de gente sobre o meu coração.

Muito pode ser nublado, muito pode ser desfocado, mas o teu peso calibrou o meu peito. E nesses segundos inspiro fundo e fecho os olhos. Nesses segundos vivo uma outra vida. nesses segundos.

17 outubro 2013

07 outubro 2013

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soheir



Há alguns anos atrás este vídeo fez-me escrever este texto

As memórias sempre foram uma preocupação. Sempre tive medo do efeito erosivo do tempo sobre aquilo que fica guardado no nosso cérebro. De como as reconstruimos conforme as vamos contando.


Hoje, em dia de memória(s), recentes, mas ao mesmo tempo tão fugazes e nubladas só queria ter, finalmente, encontrado O método (cientificamente testado) para as conseguir guardar sem mossa, sem defeito.



06 outubro 2013

dos dias bons salpicados de tristeza

Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen


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a brisa quente de outono na face


o mar salgado na pele


a certeza de ti (e do nós)


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o silêncio


a água salgada a escorrer pela face


a saudade do que não se viveu



Carta a Alice #5



04 outubro 2013

about today







"Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais, até mesmo um pouco (ou muito chato). Mas, que se há-de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura.

(...)

Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono.

(...)

Vim para casa humilde. Depois um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "por quê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"


Caio Fernando Abreu - Pálpebras de Neblina in Pequenas Epifanias