31 dezembro 2013

o que permanece





o meu amor ensinou-me a chegar
sedento de ternura
sarou as minhas feridas
e pôs-me a salvo para além da loucura


30 dezembro 2013

Carta a Alice #8

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into the light 








Nada consigo fazer 
quando a saudade aperta
foge-me a inspiração
sinto a alma deserta




Os tempos ultimamente têm sido mais negros, mais escuros, apesar do brilho do sol que teimou em manter-se neste início de Inverno seco e solarengo. Amanheço mais triste, porque sinto uma peça em falta na engrenagem do dia. Tudo me lembra de ti e sorrio. Mas depois, depois o nó apodera-se do meu peito, o vazio, o buraco que ainda não percebi como preencher, ou se algum dia vou preencher.

Há dias (cada vez mais) em que me habituo e convivo com esse vazio. Há dias em que as gargalhadas se soltam e passam esse vazio e, depois, há aqueles em que a felicidade desaparece nesse buraco negro e, de repente, a tristeza rompe e as lágrimas soltam-se sem controle. Mas podes descansar... são cada vez menos esses dias. São cada vez mais os dias e as noites em que a lua cheia não é motivo para as lágrimas correrem, mas para um sorriso se abrir. Em que a linha na minha barriga não me faz desviar o olhar, mas ficar com alguma pena de a ver desaparecer (tenho medo que desapareças com ela). Em que as mãos do teu pai na minha barriga não me causam um arrepio de tristeza pelo corpo todo, mas apenas o carinho e o amor que ele sente por mim.

Tal como me moldaste ao longo daquelas quarenta semanas, agora também o tempo me vai moldando, com a certeza, porém, que não há um dia que passe que uma lágrima ou um sorriso não sejam desencadeados por ti. 


25 dezembro 2013

my heart is beating in a different way *



* Missing - The XX

Carta a Alice #7


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Light - InLightImagery




só para te dizer que não tendo sido o primeiro foi como se fosse, porque a luz é forte demais para ignorar





nunca deixando de relembrar:

[e sim eu sei que não serve de nada sonhar com o que poderia ter sido, mas pelo menos abre-me um sorriso]




22 dezembro 2013

sobre a estação que se despediu (e não só)

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winter - soheir


"É no Outono que a gente é capaz de reparar que a vida não é banal.
(...)
É que, a certa altura, a vida é outra e o próprio passado não é bem aquilo que a gente viveu, porque, em cada tempo, há uma forma de olhar, e aquilo que vivemos não está no mundo, está na maneira como olhámos para ele."

António Alçada Baptista in Tecido de Outono


Neste momento olho e já não sei bem o que foi (é) o passado. Já não sei quais as cores que lhe associo. Deste passado recente que parece, ao mesmo tempo, tão longínquo, tanto quero fugir (pela dor e pelo buraco que me abre no peito), como o quero bem próximo, bem dentro das minhas lembranças diárias (pelos sorrisos, pela felicidade no meio da dor, pelas certezas mais certas e mais profundas que alguma vez experienciei).

O Outono é aquela época. A das cores sem igual. A época dos pensamentos profundos, do início do balanço do ano. Aquele tempo em que se recolhe mais cedo, em que o tempo para pensar e sentir é mais durad(ouro). Faz-me parte do corpo, apesar de mais facilmente cair na tristeza. Faz-me parte do corpo porque sei que dessa tristeza (por vezes avassaladora) saio com os olhos à procura das cores do Outono. Essas cores que me fazem regressar à vida: os castanhos dourados das árvores que se renovam, as nuvens do fim de tarde ("que só as crianças sonham a vermelho"), o ar fresco que inspirado me acorda a alma.

O Outono permite isso. O (re)aprender com a tristeza, o perceber que ela (a tristeza) é componente essencial da felicidade.



13 novembro 2013

27 outubro 2013



"Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda."

Daniel Faria



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20 outubro 2013

Carta a Alice #6

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Sabes... há uns segundos na manhã, na tarde, na noite, mas principalmente ao amanhecer e ao anoitecer em que o meu peito se comprime. São aqueles pedaços do dia em que a vida me permite sentir-te (novamente). É o meu corpo a reagir à lembrança de te sentir deitada sobre o meu peito, do meu lado esquerdo. Aqueles segundos (ou terão sido minutos...não sei) em que senti o teu peso sobre mim: quatro quilos de gente sobre o meu coração.

Muito pode ser nublado, muito pode ser desfocado, mas o teu peso calibrou o meu peito. E nesses segundos inspiro fundo e fecho os olhos. Nesses segundos vivo uma outra vida. nesses segundos.

17 outubro 2013

07 outubro 2013

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soheir



Há alguns anos atrás este vídeo fez-me escrever este texto

As memórias sempre foram uma preocupação. Sempre tive medo do efeito erosivo do tempo sobre aquilo que fica guardado no nosso cérebro. De como as reconstruimos conforme as vamos contando.


Hoje, em dia de memória(s), recentes, mas ao mesmo tempo tão fugazes e nubladas só queria ter, finalmente, encontrado O método (cientificamente testado) para as conseguir guardar sem mossa, sem defeito.



06 outubro 2013

dos dias bons salpicados de tristeza

Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen


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a brisa quente de outono na face


o mar salgado na pele


a certeza de ti (e do nós)


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o silêncio


a água salgada a escorrer pela face


a saudade do que não se viveu



Carta a Alice #5



04 outubro 2013

about today







"Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais, até mesmo um pouco (ou muito chato). Mas, que se há-de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura.

(...)

Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono.

(...)

Vim para casa humilde. Depois um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "por quê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"


Caio Fernando Abreu - Pálpebras de Neblina in Pequenas Epifanias

26 setembro 2013

unfold me (...) and breathe me *

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Há dias em que a dor no peito se acumula de tal forma que dói, que sufoca. E o ar não entra e não sai. E é preciso pensar para respirar: "um,dois, inspirar" e logo de seguida "um, dois, expirar".

[suspiro]

E aí tudo acalma. O coração abranda. A dor atenua.




* Breathe me - Sia



Há dias em que a noite é longa, muito longa... e não termina depois do sol nascer.

Há dias em que podia ser só eu, a música, os teus braços e o teu peito. Só, mais nada.

23 setembro 2013

19 setembro 2013

da normalidade


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A vida, para mim, sempre foi construída dos pequenos detalhes do dia a dia, das rotinas instaladas que, mesmo assim, são surpresas constantes. Olhando por cima do ombro sei que não são os grandes momentos que me definem. Não foram esses que me construíram. Foi cada minuto e segundo dos dias mais (aparentemente) aborrecidos que me talharam. O sorriso daquele cliente trombudo, o elogio vindo daquela pessoa para quem nada está bem, as mãos que se tocam enquanto se janta em silêncio, os olhares que se cruzam enquanto uma série se vê ou dois livros se lêem, o telefone, que toca sempre àquela hora apenas para perguntar: "Como estás?". 

Hoje tenho medo do regresso a essa rotina, a essa normalidade, a esses dias que parecem sempre iguais. Olho e não quero acrescentar mais desses minutos que me constroem à minha vida. Queria aproveitar um pouco mais desta tristeza que salpica a minha vida feliz. Não queria essas camadas de normalidade em cima da lembrança, não queria esgravatar no meio das rotinas para encontrar a dor. 

Mas é tempo [apesar das dores de corpo e da ansiedade que me assalta] de deixar que esse tempo de normalidade e de rotinas regresse. É tempo de me voltar a irritar e a sorrir com aquilo que os dias  (aparentemente) iguais me vão trazendo. 



18 setembro 2013

saudades de ter alguém que aqui está e não existe *






na incerteza que nada mais certo existe
além da grande incerteza de não estar certa de nada *




*Desfado - Ana Moura


17 setembro 2013

"Olá, disseste. E a terra começou a tremer." *




Afastado do lugar comum, escondido debaixo da terra como a raiz de qualquer planta, não te esqueças de guardar algo; que apenas depois da tua morte o mundo perceba a sua dimensão.


Segredo - Gonçalo M. Tavares in Breves notas sobre o medo




* in A Terceira Rosa - Manuel Alegre [2008...]

09 setembro 2013

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Um dia li num livro: «Viajar cura a melancolia».

(...)

Os anos passaram - como se apagam as estrelas cadentes — e, ainda hoje, não sei se viajar cura a melancolia. No entanto, persiste em mim aquela estranha impressão de que lera uma predestinação.

(...)


Viajar, se não cura a melancolia, pelo menos, purifica. Afasta o espírito do que é supérfluo e inútil; e o corpo reencontra a harmonia perdida - entre o homem e a terra.



Al Berto

02 setembro 2013

Carta a Alice #4

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~ nile-can-too


Foi  uma noite boa. Serena. Tranquila.  

Estar naquela varanda, onde fui feliz.  Onde li muito (imenso) sentada naquele chão, quente das tardes de Verão infernais. Onde fiz corridas com patos. Onde respirei o ar fresco (morno) das noites de Verão na minha infância. Cresci naquela varanda: li os livros da Anita, os Cinco, os Maias do Eça, a Aparição do Vergílio, e quantos mais... Aqueles Verões que pareciam intermináveis, as tardes quentes em que mal se respirava. O tempo que dava para tudo e ainda sobrava. O tempo que agora nos foge entre os dedos das mãos.  

Tenho saudades de crescer ali, naquelas noites frescas, naqueles degraus onde tanta emoção passou em mim . Onde chorei amores de adolescência, onde escrevi cartas de amor e desabafos num diário já destruído.


Tudo isso voltou com o fresco daquela noite, com o estar lá rodeada dos que amo. Tudo isso serena, tranquiliza, abre o coração. Mas as lágrimas... essas putas que teimam em aparecer  quando tudo parece melhor.  Senti-te a falta naquela varanda. Naquele silêncio da noite cheio de sons típicos da aldeia, naquele céu estrelado único (nunca encontrei outro igual...), no cheiro da noite de verão, naquele passado que queria para ti.  Senti-te a falta.  E os olhos inundaram-se de lágrimas (essas putas...), que caíram  sem pedir licença.

29 agosto 2013

Palavras #51



"Continuando: somos muitos ao mesmo tempo, somos aqueles que sonhamos, mas sobretudo aquilo que tememos e que desejamos."

Manuel António Pina - [aqui]



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26 agosto 2013

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"Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda."

Clarice Lispector

Carta a Alice #3

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let-it-di


Morreste-nos antes de viver. Antes dos teus pulmões sentirem o ar que respiramos.

Morreste-nos sem que tenhamos sentido o calor da tua pele. Sem que te tenhamos visto sorrir, chorar e gritar desalmadamente.

Morreste-nos para viveres nas lembranças nubladas dos nossos corações.


14 agosto 2013

Do que constrói as nossas madrugadas (dias) #11



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- Gostava de acreditar...

- ...

- Que existirá uma eternidade contigo.


- Claro que existe: 


a eternidade de todos os nossos momentos, presentes e passados

a eternidade dos toques nossos, no escuro e no silêncio da noite

a eternidade dos silêncios nossos cheios de palavras

a eternidade das palavras nossas cheias de sentimento

a eternidade da dor nossa preenchida de felicidade



a eternidade da ternura do nosso amor




(os dicionários teimam na inexistência da palavra, por isso remeto para aqui...)


07 agosto 2013

Carta a Alice #2 (depois de nascer)

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alice - wredna



Eras bonita.
 Sim, tu. 
 Minha filha.

Que nunca serás na plenitude, pois não és minha filha só por te trazer ao mundo. Serias com tudo o restante que te ensinasse, te ralhasse e te amasse. Serias com o tempo que ficaria a olhar para ti, a conhecer-te, a cheirar-te. Serias...

Uma dor, salpicada com felicidade, ter-te, sentir-te nos meus braços, no meu peito, para logo depois te levarem de nós. Mas ainda sorrimos para ti, enquanto lágrimas corriam pelas nossas faces. Sorrimos por, finalmente, te conhecer.

No fim, na contagem dos tempos, foram mais os dias em que te senti e te soube viva que os dias em que te deixei de sentir. E foi por isto, por todo esse tempo [essas 40 semanas, esses 280 dias, essas 6720 horas, esses 403200 minutos...] que a felicidade nos contagiou quando te olhámos. Que a esperança e a serenidade nos invadiram nesse momento. 
E é por isso que não é só a dor e a tristeza que nos invadem quando em ti pensamos ou te recordamos. 

Porque foste/és um (re)começo. 

escrito a 7 de Julho 2013

06 agosto 2013

Do que constrói as nossas madrugadas (dias) #10


"(...) estende o corpo, adormece debaixo da sombra do meu. Sorris, quando te segredo: que a sombra te seja leve."

Al Berto



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"Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge." 

Al Berto

04 agosto 2013

Palavras #50

"Às vezes encontramo-nos com a cabeça nas mãos. Tudo o que poderia ter corrido bem correu mal. O mundo, que era igual à vida, afasta-se de repente. Distancia-se e continua a existir, como se nada tivesse a ver ou a haver connosco, como se fizesse questão de mostrar a independência dele, mundo, que não existe só porque nos damos conta dele."

in Como é linda a puta da vida - Miguel Esteves Cardoso



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so close - gabriel thearchangel

02 agosto 2013



The lost child - David J. Roch

31 julho 2013

"Mas não há lágrimas na verdadeira tristeza, assim como não há riso na alegria. Falo duma tristeza e duma alegria fundas, como as minas escavadas, ano após ano, para procurar um veio de ouro.

(...)


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(...)

- E se nos calássemos enquanto a memória se esvazia. Está tudo por acontecer. Mesmo o sono, se vier, terá um peso de lume, um sabor a terras mortas e areias salgadas. Não sei... está tudo ainda por acontecer."



Al Berto - in Quarto de Pensão - Anjo Mudo 



25 julho 2013

Carta a Alice #1 (antes de nascer)

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alice - wredna


Devia ter tempo, disposição e vontade para te escrever sobre os pequenos episódios do dia a dia: como a ansiedade em saber se o teu coração batia na ecografia das 12 semanas, ou o sorriso pateta que me invadiu a cara, quando, enquanto trabalhava, te senti pela primeira vez. Podia ainda falar-te (ou escrever-te:) ) acerca da cara do teu pai quando sentiu o teu mexer através da minha barriga, que começava a crescer nessa altura. Ou ainda melhor, a sua cara de pânico quando se deparou com uma barriga deformada, onde conseguiu perceber algumas das tuas formas.

Podia e queria escrever-te acerca disto tudo, mas nunca me senti tão cansada para tal e tão desinspirada como agora. Estranho?! Não sei... Dir-me-ás tu quando daqui a muitos anos fores mãe (se optares por isso...). Não sei se é o medo a apoderar-se de mim (sim tenho medo: de algo não estar bem contigo, enquanto ai estás dentro, longe da minha vista; de não conseguir dar conta do recado contigo cá fora; de me deixar apoderar pelos medos e receios) ou se é simplesmente cansaço. Puxas muito por mim... E, percebo, cada vez melhor todos os dias, que não me posso dar ao luxo de dizer não quando me apetece. Já se foram esses tempos, e não leias isto como uma queixa, apenas um desabafo, que perceberás nesse futuro.


É uma nova vida que começa a tomar forma e não é só a tua.

escrito a 4 de Abril de 2013

23 julho 2013

Palavras #49

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Deus é impotente e fraco no mundo, e somente assim está connosco e nos ajuda.
Dietrich Bonhoeffer



"Quando Deus vacila em mim
sem adornos, ataduras, sem outro pretexto
Quando o sinto a ponto de perder-se
na folhagem a meu lado
compreendo o grande mistério
uma lei face à qual as palavras
não servem

Deus abraça o meu vazio profundamente grato
Abraça a imundície de todos os seus filhos
e continuamente declara-os bem-aventurados

Pois Deus sendo casto deixa-se consumir
com a paixão insultuosa
dos devassos"


Quando Deus vacila em mim - José Tolentino Mendonça in Estação Central

22 julho 2013

da dor e das certezas que daí nascem

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you know we are the infinity - Samarilion



"Sexualmente quer dizer com a minha alma." - Boris Vian



Acolhes-me como ninguém, na dor, no amor, na rabugice e no humor.

 Fazes-me transbordar, tudo o que esteja na beira e tenha dificuldade em sair, principalmente a minha dor (que também é a tua)... A não falada, a muito sentida e mascarada.
A dor, tão somente. Que se esvai nas lágrimas, que correm ao longo da minha face, que caem no teu peito, e se misturam com os nossos suores. A minha dor que é nossa, que se dilui e desaparece.

E nesse abraço, a felicidade toma o lugar vazio (nem que por momentos) deixado pela dor, espalha-se como ervas daninhas e toma conta de todo o meu corpo.


escrito a 23 Agosto 2012, mas poderia ter sido escrito agora...