19 setembro 2013

da normalidade


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A vida, para mim, sempre foi construída dos pequenos detalhes do dia a dia, das rotinas instaladas que, mesmo assim, são surpresas constantes. Olhando por cima do ombro sei que não são os grandes momentos que me definem. Não foram esses que me construíram. Foi cada minuto e segundo dos dias mais (aparentemente) aborrecidos que me talharam. O sorriso daquele cliente trombudo, o elogio vindo daquela pessoa para quem nada está bem, as mãos que se tocam enquanto se janta em silêncio, os olhares que se cruzam enquanto uma série se vê ou dois livros se lêem, o telefone, que toca sempre àquela hora apenas para perguntar: "Como estás?". 

Hoje tenho medo do regresso a essa rotina, a essa normalidade, a esses dias que parecem sempre iguais. Olho e não quero acrescentar mais desses minutos que me constroem à minha vida. Queria aproveitar um pouco mais desta tristeza que salpica a minha vida feliz. Não queria essas camadas de normalidade em cima da lembrança, não queria esgravatar no meio das rotinas para encontrar a dor. 

Mas é tempo [apesar das dores de corpo e da ansiedade que me assalta] de deixar que esse tempo de normalidade e de rotinas regresse. É tempo de me voltar a irritar e a sorrir com aquilo que os dias  (aparentemente) iguais me vão trazendo. 



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