19 maio 2015

Carta a Alice #17



"Através do teu coração
passou um barco
que não pára de seguir
sem ti o seu caminho."

Sophia de Mello  Breyner Andresen




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Every Step We Take, We Grow - blackjack019




Fomos navegando desde que nasceste [morreste, desde que nos morreste...], um pouco à deriva no início, mas depois com mais consciência. Consciência essa que nos deste, apesar de não teres permanecido connosco. Consciência essa que foi crescendo com a percepção de que permanecerias [e permanecerás...] de uma forma diferente.

A partir deste momento fomos, lentamente, navegando da noite para o dia, da Lua para o Sol. Porque a vida não pára [assim como o barco...], e não avança sozinha, sem nós.

Custa a consciencialização de que não podemos manter-nos na noite. É como se todo este tempo tivéssemos vivido sob um eclipse solar e, de repente, nos déssemos conta que essa luz não é suficiente para fazer florescer as flores, para alimentar a vida.

É tempo de dizer-te adeus, a ti, a menina que não quis ser grande. 

Sem esquecimento, sem dor, sem remorsos e sabendo-te o princípio de tudo.



[aos 22 de Abril de 2015]


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