10 novembro 2006

Ratoeira


Alberto era um miúdo bem disposto e arisco de quem todos gostavam. Último de uma prole de 7 filhos cedo teve de começar a trabalhar. O pai, que tinha um gosto especial pela pinga, colocou-o a trabalhar com o tio, pedreiro de profissão. Começou como servente de pedreiro e era a alegria e o pesadelo dos seus colegas de trabalho: pela boa disposição e pelas partidas que pregava. A vida em casa era complicada, faltava o pão e por isso ralhava-se sem razão. Apesar de tudo, o trabalho de Alberto corria bem. Além de dar à família o quinhão que lhe competia ainda colocava algum dinheiro de parte. Conseguia sempre umas gorjetas com os donos das obras que adoravam o seu espírito divertido. Para guardar esse tesouro arranjou uma pequena caixa de madeira que guardava religiosamente à beira do sítio onde dormia.

Certo dia reparou que algum do dinheiro tinha desaparecido. Raios partam! Era só o que me faltava: um ladrão. Nessa altura andava na construção da igreja e em conversa com o padre contou-lhe o sucedido:
- Parece-me que trago um ladrão em casa, senhor Prior. O dinheiro anda a minguar. Não sei o que hei-de fazer.
- Tens uma boa forma de descobrir o ladrão. – disse-lhe o padre – Tens alguma ratoeira em casa?
- Ratoeira? Daquelas de apanhar ratos? – perguntou Alberto coçando a cabeça.
- Claro Alberto, então para que servem as ratoeiras? Colocas uma dentro da caixa e verás que daqui a algum tempo descobres o ladrão.
De volta a casa Alberto colocou o plano em prática. Passados dois dias chegou à obra todo entusiasmado:
- Senhor Prior apanhei o ladrão. Bem, o ladrão não, a ladroa.
O padre olhou para ele e começou a rir-se.
- Não acredita senhor Prior?! Aquela ladroa da minha irmã… Não tenho o dinheiro de volta, mas também me vinguei. Pois vinguei, que ela agora tem uma mão empanada e anda com o braço ao peito. Claro que não confessou, mas eu sei que foi ela: a ratoeira desapareceu e ela ficou com a mão empanada. Uma ladroa é o que ela é.

3 comentários:

Tentini disse...

Ó santa.... santa ingenuidade!!!!!!!!

Ana disse...

Não consegui terminar o texto da melhor maneira. Sempre que o leio parece que falta algo... Mas era exactamente isso que queria transmitir:)

Tentini disse...

se pensares assim... não havia nenhum escritor que acabava um livro...
claro que fica sempre a faltar algo... o algo para sonharmos não?