24 novembro 2007

2 x Al Berto = ...


há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida - Al Berto



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"Durante o sono sinto de novo o teu corpo procurando o meu.
Deixo-me ficar quieto, abro as mãos, toco-te – quando a tua voz me sacode. Encolho-me e escuto em mim:

- Trago-te o mar, as nuvens

que só as crianças sonham a vermelho. Trago-te a terra que te transformou em húmus e a seiva morna das árvores, a dor que a vida faz a latejar no pulso dos homens sozinhos... e o tempo, essa doença dos vivos eternizou-nos. Noite após noite, falo-te, amo-te sem que o saibas. Posso tocar-te sem sentires sequer a minha presença. Posso estar, sem estar. Trago a cinza das horas nos cabelos e os dias da paixão onde não há dias nenhuns.

Trago-te as palavras,


e este cigarro que fumaremos os dois... e do mar recolhi esta coroa de rubras escamas e o silêncio dos náufragos... uma concha,

um punhado de sal e a moeda de ouro que te enterro na boca antes de prosseguires viagem.

O dia vem lentamente na incandescência de um fio de poeira suspensa. Atravessa o quarto vazio, acende-te o rosto.


Abro um pouco a boca e deixo cair a moeda de ouro. Nos meus olhos descobrirás como é grande a tristeza do mundo.
Lá fora é outra vez verão."

in Canto do Amigo Morto – Al Berto

4 comentários:

JFDourado disse...

Al Berto... muito boa esta prosa... muito bom este post... :)

bjs

Anónimo disse...

Grande escolha! E a concha é linda ;) Ticha.

un dress disse...

belo e cadente

como al berto

Ana disse...

obrigada! tive muito prazer em encaixar estas fotos. quase tanto como em lê-lo:)