17 fevereiro 2008

Pedaços de Correntes*




há quem diga que na vida há coincidências... eu gosto de lhes chamar rimas... as rimas da vida.


memorizem versos. memorizem versos. haverá momentos em que um verso vos dará mais jeito que um livro de cheques.

Maria João Seixas



temo a verdade verdadeira escondida nas curvas das palavras.

Pepetela


a palavra é uma asa, uma viagem...

um dia, encontrei dois garotos sentados no muro da minha casa. Perguntei-lhes o que faziam ali.
- Não estou a fazer nada, respondeu um deles.
Fiz ao outro a mesma pergunta e ele respondeu:
- Eu estou só a ajudar o meu amigo.

...um fazer nada a quatro mãos.

Mia Couto


Ao visitar um amigo, antigo emigrante nos EUA, na sua ilha Graciosa, no meio da conversa ele diz-me:
"Sabe, professor, estive sete anos em França e não sei uma palavra de francês. Depois fui dez anos para os Estados Unidos e também não aprendi uma palavra que fosse de inglês. Não sei porquê professor, mas o português caiu-me bem."

Onésimo Teotónio Almeida






Ao olhar para os títulos das mesas redondas pareceram-me versos de poemas. Não são?!

Carme Riera


Ao Dar a palavra à voz

Sinto que A meu favor tenho a poesia

Ela conspira a meu favor e sussurra-me:

Vai, pega no lápis. E aí começa

A lenta volúpia de escrever.

Escrever é um gesto preverso que nasce do fundo

A dúvida assalta-nos e como descobrir…

Poesia: a bem dita e mal dita (?)

Deixo o lápis e pego nas escritas dos outros, dos maiores.

Abro o livro e voo para outros mundos:

A literatura rasga a realidade e não tenho como a parar.

Leio. Leio e caminho e A rua faz o Livro.

Pequenina, assim sou e assim me sinto.

Incapaz de entrar nesse mundo,

Sou do tamanho do que escrevo:

Pequenina e comum.

E como todos os comuns tenho a minha língua,

A anatómica e a outra, porque

Cada homem é uma língua (?)

ou muitas, se assim o desejar.


* Correntes d'Escritas (9ª Edição que decorreu na Póvoa de Varzim)

10 comentários:

Rui disse...

:'-) Lindo!
Também tinha uma ideia parecida, mas não tão boa quanto a tua... Grande memória, "jornalista" Ana! ;-)

E acrescento eu...
Devemos ser namoradores, piratas, contrabandistas... da língua!
Mia Couto

Devemos saber a norma, mas não ficar agarrados à regra...
(Já nem me lembro de quem disse isto, mas julgo que terá sido Maria João Seixas)

E a história do surdo-mudo que apesar de ter gostado de assistir às aulas de Onésimo, sentia dificuldades com o seu sotaque? Brilhante!

:-D

Anónimo disse...

Como é inspirador .... ler-te!!!!
beijos
muito bom

Ana disse...

o da norma foi também o Mia;)

teresinha tu é que és inspiradora, juntamente com a tua bela família;)

JFDourado disse...

foi tão bom ouvir aquelas pessoas... e os livros assinados pelo Mia Couto e pelo Agualusa... O problema é que agora só temos o correntes daqui a um ano :(

Ana disse...

querias todos os meses era?! ;)

Claudia Sousa Dias disse...

Querida Ana: desculpa mas eu vou mandar este poema para as correntes...pode ser que o publiquem na revista ou no site!

com o teu nome!

Como é poss+ivel que não nos tenhamaos encontrado na póvoa?!Eu andava por lá a fezer entrevistas aos escritores...quase não tive tempo para assistir ao debates...mas este post está magnífico!


CSD

Ana disse...

Todas aquelas entrevistas foram feitas por ti?!:) Não admira que não tenhas tido tempo para assistir aos debates;)
Quanto ao poema (se assim se lhe pode chamar) estás à vontade para o utilizar:)

Beijo

Queen Frog disse...

Linda a composição.
E lá em cima...Mia Couto, sempre tão imenso "...um fazer nada a quatro mãos.", é das coisas mais belas que se disseram.

:)*

Ana disse...

:)...da boca do Mia Couto saíram as palavras que mais me tocaram o coração. foi bonito, muito bonito:)

Queen Frog disse...

ana,
brigada por partilhares.Para mim que preciso sempre tanto de Mia Couto, dos poemas, dos contos, dos romances...foi um mimo para a alma.

bjos