08 fevereiro 2008

Slow motion

Dizias sempre o mesmo, tinhas medo de perder as tuas memórias, receio que elas se escapassem por entre os teus dedos, como a areia da praia.
Durante anos tentaste encontrar uma forma de conservar tudo: as boas, as más, os sítios, as pessoas e, principalmente, os pormenores a que ninguém ligava. Foste usando diversos métodos, cientificamente testados (porque levavas essa coisa da ciência muito a sério). A salmoura, o fumeiro… quando surgiu a congelação, eureka, achaste que tinhas o problema resolvido. Compraste o topo de gama, cinco estrelas, empacotaste e etiquetaste tudo, por ano, por tipo de memória.
Foste acumulando tudo ao longo da tua vida: as nuvens que os teus olhos viram, a maresia que o teu nariz cheirou, a chuva que a tua pele sentiu, o riso que os teus ouvidos ouviram, a pele que a tua boca saboreou.
Hoje chegaste à minha beira com uma lágrima ao canto do olho (alegria ou tristeza?). Tinhas começado a descongelar memórias e todas eram um filme a preto e branco, em movimento lento.


3 comentários:

JFDourado disse...

afinal o topo de gama não era assim tão bom... só dava a preto e branco e ainda por cima lentamente? ;)

agora a sério. Gostei muito do post. Texto e música.

:)

Rui disse...

Fantástico... Sem palavras!
:-)

Ana disse...

Realmente o topo de gama não era assim tão topo: não deixou tudo fresquinho e cheio de cor ;)

palavras é o que não falta nas nossas memórias... ou serão também arrastadas, em câmara lenta?! :)

obrigada:)