02 abril 2008


Lendo isto, recordei uma pequena história de Alçada Baptista:


A vírgula que faltava

O José Cutileiro fazia bons versos. Se calhar ainda faz. Ele tem mesmo um livro publicado na Guimarães Editores onde se lê poesia de qualidade. Às vezes lia-nos os poemas. Uma vez, ia-nos ler um soneto, a mim e ao Alexandre O'Neill e começou assim, cheio de solenidade:
«De ti me sirvo amor como de tudo...»
Então o Alexandre disse: - Ó Zé, falta aí uma vírgula: «De ti me sirvo amor, vírgula», e depois, abriu os braços, e num ar conformado terminou: «como de tudo...»

Mas as interrupções de poemas não ficam por aqui. Uma vez ele estava a descer a Avenida da Liberdade com o Alexandre Pinheiro Torres. Naquele tempo a gente quando tinha fome dizia «estou com uma traça!». Pois o Pinheiro Torres estava a dizer-lhe um poema que a certa altura dizia:
«A rota, a traça...»
O Alexandre interrompeu-o:
- Ó Pinheiro Torres, isso de arrotar a própria traça não será fome a mais?!

in A Cor dos dias - António Alçada Baptista


(foto: Vírgula - Paulo Moura)

5 comentários:

Rui disse...

Isto há cada uma...
Acho que o concorrente do tal concurso de cultura geral estaria confundir Alexandre O'Neill com Alfredo Keil... eheh
Isto há coisas engraçadas... e mesmo assim enganava-se redondamente! eheh

E a propósito das vírgulas, deixo-te aqui um desafio para pontuares com vírgulas e pontos, o seguinte texto:

Deixo tudo para minha irmã não ao meu irmão nunca para meu mordomo nada aos pobres

Os resultados são surpreendentes!
(Talvez até já conheças isto...) ;-)

Ana disse...

;)

Queen Frog disse...

Mas esta história é tão boa,tão boa! Deliciosa;)
Já tinha lido ó post do Pedro Mexia, mas este texto...

A sério, q momento maravilhoso!

Beijinhos

V. disse...

ahahahahahah! eu também tenho a mania das vírgulas! shame on me! :D *

Ana disse...

E no livro "A cor dos dias" há mais umas quantas pequenas histórias, algumas com o O´Neill, outras com o Bénard da Costa... são tantas e tão deliciosas:)